Economia, Ideias Sociais e Política
O PERIGO DO ANTISSEMITISMO NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
Autor: Prof. Eduardo Costa (UFPA)
Os noticiários do mundo inteiro repercutem o brutal assassinato do casal de funcionários da Embaixada de Israel, Sarah Lynn Milgrim e Yaron Lischinsky, diante do Capital Jewish Museum, em Washington; o autor dos disparos, Elias Rodriguez, ativista marxista de esquerda e pró-Palestina, gritou “Free Palestine” ao ser detido pela polícia.
Embora o atentado tenha ocorrido a milhares de quilômetros, seus ecos já ressoam no Brasil. Relatório da Confederação Israelita do Brasil (CONIB) registra um salto alarmante de denúncias de antissemitismo entre 2023 e 2024, sendo parte importante delas dentro de instituições de ensino superior. Paralelamente, a Anti-Defamation League, no mais recente Campus Antisemitism Report Card, atribuiu nota “C-” ao ambiente universitário brasileiro, apontando falta de protocolos de segurança e de formação docente para lidar com discursos de ódio. Não faltam exemplos e relatos de hostilidades em sintonia com protestos pró-Palestina que se alastraram a partir de 2024.
Em Belém, a situação também preocupa. A Câmara Municipal transformou-se, dias atrás, em palanque de um tumultuado ato pró-Palestina comandado por vereadoras, enquanto problemas locais continuam sem resposta. Curiosamente, não se veem manifestações equivalentes contra a invasão russa na Ucrânia — talvez porque a pauta não interesse às mesmas siglas partidárias. A indignação é seletiva, ou “oportunista”. O bombardeio russo a um hospital infantil na Ucrânia não gerou uma única nota de repúdio. Vidas importam, ou somente “algumas” vidas importam?
Assusta-me ver essa onda transbordar para os campi. Partidos de esquerda, por meio do aparelhamento de movimentos estudantis, tentam impor essa pauta, instrumentalizando o sofrimento em Gaza para interesses que pouco têm de humanitários. Precisam de uma causa para mobilizar “inocentes úteis” e revigorar candidaturas partidárias, agora que suas bandeiras tradicionais — defesa da educação e dos vulneráveis — mostram-se esvaziadas.
Enquanto isso, as universidades enfrentam crises financeiras graves. Paradoxalmente, grupos políticos que se calam diante desses problemas querem transformar as universidades em arenas geopolíticas, desviando o debate do cotidiano estudantil. O avanço desse movimento pró-Palestina produz efeitos perigosos: professores e alunos judeus — minoria historicamente perseguida — passam a conviver com um clima de hostilidade que naturaliza o antissemitismo sob o pretexto de “luta política”. Vamos assistir, omissos, a mais uma onda antissemita?
A universidade não pode permitir que isso vire rotina e se naturalize. E nem podemos aceitar com naturalidade e passividade que intimidações, agressões e cancelamentos sejam feitos contra quem ousa pensar diferente daqueles que se acham os “donos da fala”. Debater a guerra no Oriente Médio é legítimo e necessário, mas jamais à custa da dignidade de quem pensa diferente. Formar gerações de “inocentes úteis” a serviço de siglas partidárias é trair a essência do ensino superior.
Oro para que o que ocorreu em Washington não aconteça aqui. Não queremos ver judeus agredidos, hostilizados ou, pior, mortos para entender que esse radicalismo precisa ser contido. E nós que fazemos parte do ambiente universitário não podemos ser omissos. A Constituição, em seu art. 5.º, XLII, torna o racismo crime inafiançável e imprescritível, e a Lei 7.716/1989 pune qualquer ato de preconceito por origem étnica ou religiosa. Reitorias, Institutos e Faculdades, portanto, não podem alegar neutralidade ou tratar o assunto com permissividade: devem abrir processos, amparar as vítimas e enviar provas às autoridades competentes.
Defender a paz no Oriente Médio não é incompatível com repudiar o antissemitismo. A universidade — espaço de livre investigação — não pode converter-se em palco de intimidação de minorias, quaisquer que sejam. Longe de “importar” conflitos externos, cabe-lhe cultivar o pluralismo, proteger seus membros vulneráveis e formar cidadãos que rejeitem toda forma de ódio. A morte de Milgrim e Lischinsky lembra-nos que a indiferença é cúmplice da violência; agir agora é impedir que amanhã nossos corredores, salas de aula e campi se tornem cenário de crimes que juramos nunca mais tolerar.